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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dilma minimiza aborto e parte para briga com Serra


11/10/2010 - 00h56
Dilma minimiza aborto e parte para briga com Serra
Candidata do PT insistiu no tema das privatizações. Tucanos criticaram agressividade, que foi elogiada por petistas e aliados
Fonte: Congresso em Foco
Fábio Góis e Eduardo Militão

O primeiro debate do segundo turno entre os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), realizado na noite desse domingo (10) pela TV Bandeirantes, ficou marcado pelos ataques da candidata petista a um tucano pego de surpresa. “Devo confessar que estou surpreso com essa agressividade, esse treinamento que foi feito com a candidata Dilma”, resignou-se Serra, provocando risos da platéia já pelo quarto e penúltimo bloco.

Dilma criticava as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso e colocava em dúvida se um eventual governo Serra daria continuidade a programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, carros-chefe da gestão Lula e da campanha petista. Partir para o ataque foi a solução encontrada por Dilma para minimizar a abordagem de temas como aborto e a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra.
Serra criticou Dilma por tentar se fazer de “vítima” no episódio do aborto. Ele reafirmou que a petista mudou de opinião às vésperas de eleição e chegou a questionar a fé de Dilma em Deus.

A campanha petista parecia repetir a estratégia que levou à reeleição, em segundo turno, do presidente Lula no embate com o então candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, em 2006. A petista fez da comparação entre os governos Lula e FHC, com ênfase nas privatizações de grandes estatais feitas nos oito anos da gestão tucana (1995-2002), o elemento para evitar o foco sobre a questão do aborto. De olho no eleitorado católico e evangélico, os tucanos insistem em dizer que Dilma é favorável à prática.
Ao final do debate, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), reclamou do tom adotado pela petista. “A ministra mostrou uma estranha agressividade. Ela foi agressiva o tempo todo e misturava os assuntos com toda a naturalidade”, opinou.
Para Serra, o debate deixou de abordar certos temas, como meio ambiente. Mas ele culpou Dilma por isso, ao dizer que a petista usava o espaço para posar de vítima. Mas, de acordo com o tucano, a adversária se mostrou mais “verdadeira” nesse debate. O vice da chapa tucana, o deputado Índio da Costa (DEM-RJ), disse que Dilma mostrou uma nova postura: “Vai demonstrando uma face que ninguém conhecia”.
O que foi visto como animosidade por uns era a postura adequada para outros. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, afirmou que o comportamento de Dilma não deveria ser mais ameno pelo fato de ela aparecer à frente nas pesquisas eleitorais. “Ela não foi agressiva, ela foi firme. Isso independe de estar na frente ou em segundo”, disse Dutra.
“O desempenho de nossa candidata foi excelente. Campanha se faz assim, olhos nos olhos. E não com calúnias”, disse o presidente do PT paulista, José Eduardo Cardozo. O vice de Dilma, o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), afirmou que o tom adotado pela petista foi adequado tendo em vista os ataques sofridos por conta da polêmica do aborto.

Ringue de vale-tudo

A candidata Marina Silva (PV) lamentou o tom do debate. Em seu microblog, a senadora disse esperar uma oportunidade de discutir temas que interessam ao Brasil. A terceira colocada no primeiro turno, com 19,6 milhões de votos, considerou o embate desse domingo um “vale-tudo eleitoral”, um “ringue”.
“Lamento que os candidatos não tenham percebido o que quase 20 milhões de brasileiros sinalizaram sobre como se deve decidir o futuro do país”, disse Marina. “Os eleitores continuam sem saber quais são as propostas de Serra e Dilma, quais são suas visões de país e ainda desconhecem suas trajetórias.”

Quantas?

Ao falar de privatizações, Dilma quis saber de Serra a quantidade de empresas estatais que foram privatizadas por iniciativa dele. “Candidato Serra, você foi ministro do Planejamento na época áurea das privatizações. E foi chefe do plano nacional de privatizações do Brasil. Eu gostaria de saber quantas empresas você privatizou nesse período além da Vale e das empresas mencionadas aqui – por exemplo, a Light?”, provocou Dilma, depois de passar três blocos fustigando o adversário.

Desconcertado, Serra rebateu fazendo acusações a Dilma e ao governo Lula, desviava o assunto ou citava realizações de governos tucanos relacionadas ao tema.

“Voltamos ao tema e eu não tenho deixar de repetir. A Dilma Rousseff, na revista IstoÉ, elogiou a abertura à privatização do setor das telecomunicações. Se o PT da época tivesse prevalecido, porque não queria [a abertura], o Brasil hoje estaria falando ao telefone de orelhão”, rebateu Serra, acrescentando que, graças a esse processo, inclusive as camadas mais pobres da população tiveram acesso à telefonia moderna, em especial o uso de telefones celulares.

Início acalorado

Logo no início no debate, Serra disse que investiria em ensinos técnico e profissionalizante e na formação continuada e qualificada de professores, que “cresceu muito pouco nos últimos anos”. “Em todo o país a educação pode ser considerada insatisfatória”, disse o tucano.
Já Dilma deu o tom acalorado do debate logo nas primeiras palavras. Depois de falar sobre a continuidade do projeto petista – segundo ela, calcado no desenvolvimento “olhando para as pessoas”, com “distribuição de renda”, valores humanos e educação de qualidade baseada na valorização do professor –, a petista atacou a sistemática de calúnias que, na avaliação dela, pauta a campanha tucana.

“Sua campanha procura me atingir por calúnias, mentiras e difamações. A única coisa que seu vice, Índio da Costa, faz, sistematicamente, é criar e organizar grupos – até aproveitando da boa fé das pessoas – para me atingir, até com questões religiosas, em um país que é conhecido pela sua tolerância. Quero saber se o senhor considera que essa forma de fazer campanha, que usa o submundo, é correta”, emendou a ex-ministra da Casa Civil, que, além do aborto, tem sido confrontada com denuncias de irregularidade que pesam sobre sua sucessora na pasta, Erenice Guerra. Erenice acabou demitida por Lula.

Comedido, Serra começou a resposta dizendo que se solidariza com quem é injustamente acusado, e que também tem sido alvo de ataques mesmo antes da campanha. “Até blogs com seu nome – e, se fosse em seu nome, bastaria tirar na Justiça – fizeram ataques não só a mim, como a minha família, amigos. E uma campanha orquestrada em todo o Brasil a respeito de ideias que eu não tenho. Nós somos responsáveis por aquilo que pensamos e por aquilo que falamos”, disse Serra, antes de falar sobre a opinião de Dilma sobre aborto. “Creio que vocês confundem, sempre, verdades ou reportagens, matéria de jornal, com ataques, com coisas orquestradas. Por exemplo, a questão da Casa Civil.”

Projetos e continuidade

Enquanto Dilma encerrou o debate ressaltando a diferença entre os projetos representados por ela e pelo tucano, Serra afirmou que dará continuidade aos programas sociais do governo.

Dilma afirmou que o governo FHC foi marcado por desemprego, desigualdade, privatizações e submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI). E lembrou o bom desempenho na economia obtido durante a administração Lula. “Eu vou ser a presidenta com um olhar social”, afirmou Dilma.

Serra pediu a seus eleitores que conseguissem mais um voto entre seus conhecidos e familiares. Em troca, ofereceu a sua biografia. Disse que vai melhorar a proteção social do país. Ressaltou que vai manter programas sociais, como o Bolsa Família. E concluiu dizendo que foram os tucanos, durante o governo FHC, os responsáveis pelo embrião do projeto que hoje atende a 12 milhões de famílias.

Bachianas

O debate começou pontualmente às 22h, e durou quase duas horas. Na abertura, a já tradicional música-tema usada pela emissora em debates políticos foi apresentada pela Orquestra Bachiana do SESI de São Paulo, sob a batuta do maestro João Carlos Martins.

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